Tuesday, 13 December 2011

Nós e os Livros

Depois da minha pequena reflexão sobre a minha relação com os livros, na rúbrica da White Lady do Blog Este Meu Cantinho e depois de adquirir um ereader comecei a reflectir um bocadinho sobre o futuro dos livros...


Antes dos livros tal como os conhecemos (com capa, contracapa e folhas no interior) os livros e a palavra escrita passou por muitas transformações e formas, mas como eu amo livros e não papiros e estelas de cera não irei abordar isso neste post. E como não pretendo fazer um estudo extensivo da evolução dos livros salto uns quantos milhares de anos directamente para o ocaso do império romano...


Os livros tal como os conhecemos apareceram algures no distante século V criados com todo o cuidado e minúcia pelos monges copistas, durante muitos e muitos séculos o livro era algo apenas reservado às elites monásticas (nem mesmo os reis tinham acesso livre à informação das vastas bibliotecas dos mosteiros e abadias) e quase todos escritos em Latim. Uma colecção considerada extensiva consistia de apenas 500 volumes (mais ou menos o número de livros que tenho dentro de minha casa O.O)



Com a invenção da prensa de caracteres móveis por Gutenberg (1440, Estrarsburgo) os livros começaram a sua grande viajem... começaram a ser mais fáceis de produzir e apesar do custo elevado de cada cópia, eram já mais acessíveis e começaram a ser comprados pelos mais abastados (e assistiu-se à impressão da palavra escrita noutra língua que não o tradicional Latim). Assistiu-se à liberalização dos conteúdos e na altura a Igreja não achou grande piada, chegando inclusive a perseguir Gutenberg e a sua invenção demoníaca.

Após a invenção da palavra escrita, acompanhada de índices cada vez maiores de alfabetização da população, os livros sofreram uma lenta evolução de artigos de luxo e de textos sagrados a textos mais mundanos (os poetas e escritores podem agora com muito mais liberdade e facilidade publicar os seus trabalhos e distribui-los por públicos mais vastos).

Quando em inícios do século XIX apareceu a prensa a vapor, a massificação da produção de livros provocou um boom na publicação de obras literárias (podiam imprimir 1100 páginas por hora, apesar dos trabalhadores poderem apenas colocar cerca de 2000 letras por hora), começamos a assistir uma diminuição nos pormenores das encadernações e nas impressões austeras.

Durante muitos séculos a produção de livros poucas alterações sofreu. Mantendo-se basicamente a prensa de caracteres móveis de Gutenberg.


Nos últimos cinquenta anos, os livros tornaram-se num bem de consumo massificado (com a produção de edições mais baratas, com menos qualidade conhecidas por mass market paperback - livros impressos em papel de menor qualidade, com capas moles de manteriais baratos (hoje em dia algumas edições mass market paperback que me chegam às mãos têm capas de um material sintético que ainda não consegui identificar mas que não é papel vulgar).


Em 2010 a Google calculou que desde o momento que se inventou a prensa, se imprimiram cerca de 130,000,000 de livros.



Com a liberalização do mercado de ebooks e a produção de ereaders mais baratos e acessíveis, o livro enfrenta uma nova metamorfose e vira a página para o próximo capítulo da sua longa história. E aqui eu como bibliófila e consumidora compulsiva de livros penso que já vislumbrei o futuro do nosso bem amado livro: de produto de luxo e ostentação nos seus primórdios ao humilde mass market paperback, assiste-se um pouco ao retorno às origens. Com uma maior difusão e facilidade de acesso à tecnologia ebooks (apesar de ainda faltar muito em termos de unificação do mercado, pois ainda temos muitos tipos de ficheiros que são exclusivos para este ou aquele equipamento e que são dificilmente convertidos), quem compra edições mais baratas irá optar por ebooks cada vez mais enquanto o livro enquanto objecto físico será cada vez mais um objecto de luxo como antigamente.


Cada vez mais vemos que livros com vendas muito altas e populares (como a trilogias "The Hunger Games", a saga "Harry Potter", o "The Hobbit", só para citar alguns dos mais recentes), têm um tratamento mais cuidado e têm direito a edições mais luxuosas para poderem ser algo mais que um veículo da palavra escrita, voltando a ter corpo, personalidade e alma...

Mas uma coisa é certa, apesar do que o futuro guarda para o nosso "amigo e companheiro" livro... apesar da crescente popularidade dos ebooks e ereaders, a palavra impressa nunca deixará de existir. Apenas se transformará em algo mais precioso e especial que os verdadeiros bibliófilos poderão continuar a apreciar...


Atenção: Não sou historiadora, longe disso (a minha formação académica é muito mias virada para a bicheza). Este texto é apenas uma reflexão pessoal sobre a evolução e o lugar dos livros na nossa vida ao longo dos tempos (a história da palavra escrita é muito mas muito mais complexa do que abordei acima, mas a simplificação e estilização dos primórdios dos livros, serve apenas como uma introdução à maravilhosa história do livro, mesmo antes das histórias serem escritas por entre as suas capas).

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