Depois de ver a reportagem do Público entitulada "Os últimos dias da Livraria Portugal", pus-me a pensar nesta leva de falências, encerramentos e desaparecimentos de livrarias mais ou menos históricas...
Mas porque fecham livrarias um pouco por todo o mundo? Sim, porque não é só em Portugal, lembro-me de no ano passado ter vindo a público a eminente falência da "Travel Bookshop" de Notting Hill na cidade de Londres, famosa por ter sido cenário do filme "Notting Hill".
1. Crise Económica - sim, é um dos factores principais para o fim de muitas livrarias, algumas delas emblemáticas. Com uma oferta de livros cujos preços falham em acompanhar os tempos (que são cada vez mais caros) não deixam outra opção aos leitores, que não seja a opção de não comprar!
2. Compras Online - muitas destas livrarias históricas, não conseguem acompanhar a evolução do mercado. Descuram muitas vezes a vertente online do novo mercado de venda... o jovem consumidor começa cada vez mais a comprar produtos através de lojas virtuais. A tendência é para aumentar este tipo de comércio, face ao comércio tradicional (de livreiro e balcão) e qualquer negócio que se esqueça desse facto está claramente votado ao insucesso. Falando na minha experiência, poucos livros posso comprar em livrarias, devido ao meu reduzido rendimento mensal (num cenário de salário mínimo, quantos livros a cerca de €20 poderia eu comprar sem morrer de fome?! Isto tendo em conta que no ano que passou li 66 livros...), e opto maior parte das vezes por adquirir livros através das lojas virtuais das editoras ou na língua original (o que me leva rapidamente para o número 3 da lista).
3. Inglês - com a globalização, a aposta do ensino da língua inglesa nas escolas desde muito cedo do percurso escolar, o número de portugueses que têm competências de leitura e escrita em pelo menos essa língua tem aumentado exponencialmente nos últimos anos. Isso leva a um aumento do consumo de livros em inglês, se aliarmos isso com a cada vez maior facilidade em comprar este tipo de produtos online, temos uma combinação quase letal para a maioria dos livreiros portugueses. Se por um lado é verdade que, pegando no exemplo do Book Depository, tenho cerca de 8 dias entre a compra e a recepção do livro, por outro tenho a poupança de muitos euros. Veja-se o meu caso, eu com cerca de €25 por mês sou uma leitora feliz, compro entre 4/5 livros e tenho material de leitura para esse período de tempo (comprando livros em inglês/francês no Book Depository), vou a uma livraria com a mesma quantia (em alturas fora de saldos/promoções) e trago 1 livro ou 2 quando a editora que escolhi pratica preço mais baixos ou as edições que escolhi são as de bolso ou das mais básicas.
4. Livro usado - O único sector que vejo a prosperar é mesmo o sector albarrabista, muitos leitores quando confrontados com dificuldades económicas começam a "desfazer-se" das suas bibliotecas privadas tentando assim conseguir algum dinheiro extra para poderem fazer face a despesas e/ou obrigações bancárias. Enquanto outros leitores ou bibliófilos não têm capacidade de adquirir livros novos, frequentam este tipo de estabelecimentos para assim terem acesso a alguns livros que vão chegando às prateleiras dos alfarrabistas.
5. Trocas - comunidades como o Bookcrossing ou o Winking Books, redes sociais de troca de livros, também contribuem para a diminuição de livros vendidos. Num mundo cada vez mais ligado, os bibliófilos juntaram-se na web e organizaram comunidades de troca de livros, tentando juntar o útil ao agradável - livros "novos", a custo zero ou a troco de livros já lidos.
Resumindo, na minha opinião, as livrarias tal como as conhecemos, são espaços destinados a desaparecer gradualmente, um pouco como os videoclubes ou arcadas de jogos da minha infância. Claro que alguns espaços mais emblemáticos podem ser resgatados ao esquecimento com a ajuda de grupos de cidadãos dedicados, que tentem animar esses espaços (veja-se o exemplo que referi em cima, a "Travel Bookshop" ainda se encontra aberta devido à mobilização da população). Com a expansão de lojas online, mudança de hábitos de consumo e alguma dificuldade em efectivamente acompanhar novas tendências de mercado, iremos assistir à "morte" de muitos espaços livreiros, muitos deles emblemáticos...
1. Crise Económica - sim, é um dos factores principais para o fim de muitas livrarias, algumas delas emblemáticas. Com uma oferta de livros cujos preços falham em acompanhar os tempos (que são cada vez mais caros) não deixam outra opção aos leitores, que não seja a opção de não comprar!
2. Compras Online - muitas destas livrarias históricas, não conseguem acompanhar a evolução do mercado. Descuram muitas vezes a vertente online do novo mercado de venda... o jovem consumidor começa cada vez mais a comprar produtos através de lojas virtuais. A tendência é para aumentar este tipo de comércio, face ao comércio tradicional (de livreiro e balcão) e qualquer negócio que se esqueça desse facto está claramente votado ao insucesso. Falando na minha experiência, poucos livros posso comprar em livrarias, devido ao meu reduzido rendimento mensal (num cenário de salário mínimo, quantos livros a cerca de €20 poderia eu comprar sem morrer de fome?! Isto tendo em conta que no ano que passou li 66 livros...), e opto maior parte das vezes por adquirir livros através das lojas virtuais das editoras ou na língua original (o que me leva rapidamente para o número 3 da lista).
3. Inglês - com a globalização, a aposta do ensino da língua inglesa nas escolas desde muito cedo do percurso escolar, o número de portugueses que têm competências de leitura e escrita em pelo menos essa língua tem aumentado exponencialmente nos últimos anos. Isso leva a um aumento do consumo de livros em inglês, se aliarmos isso com a cada vez maior facilidade em comprar este tipo de produtos online, temos uma combinação quase letal para a maioria dos livreiros portugueses. Se por um lado é verdade que, pegando no exemplo do Book Depository, tenho cerca de 8 dias entre a compra e a recepção do livro, por outro tenho a poupança de muitos euros. Veja-se o meu caso, eu com cerca de €25 por mês sou uma leitora feliz, compro entre 4/5 livros e tenho material de leitura para esse período de tempo (comprando livros em inglês/francês no Book Depository), vou a uma livraria com a mesma quantia (em alturas fora de saldos/promoções) e trago 1 livro ou 2 quando a editora que escolhi pratica preço mais baixos ou as edições que escolhi são as de bolso ou das mais básicas.
4. Livro usado - O único sector que vejo a prosperar é mesmo o sector albarrabista, muitos leitores quando confrontados com dificuldades económicas começam a "desfazer-se" das suas bibliotecas privadas tentando assim conseguir algum dinheiro extra para poderem fazer face a despesas e/ou obrigações bancárias. Enquanto outros leitores ou bibliófilos não têm capacidade de adquirir livros novos, frequentam este tipo de estabelecimentos para assim terem acesso a alguns livros que vão chegando às prateleiras dos alfarrabistas.
5. Trocas - comunidades como o Bookcrossing ou o Winking Books, redes sociais de troca de livros, também contribuem para a diminuição de livros vendidos. Num mundo cada vez mais ligado, os bibliófilos juntaram-se na web e organizaram comunidades de troca de livros, tentando juntar o útil ao agradável - livros "novos", a custo zero ou a troco de livros já lidos.
Resumindo, na minha opinião, as livrarias tal como as conhecemos, são espaços destinados a desaparecer gradualmente, um pouco como os videoclubes ou arcadas de jogos da minha infância. Claro que alguns espaços mais emblemáticos podem ser resgatados ao esquecimento com a ajuda de grupos de cidadãos dedicados, que tentem animar esses espaços (veja-se o exemplo que referi em cima, a "Travel Bookshop" ainda se encontra aberta devido à mobilização da população). Com a expansão de lojas online, mudança de hábitos de consumo e alguma dificuldade em efectivamente acompanhar novas tendências de mercado, iremos assistir à "morte" de muitos espaços livreiros, muitos deles emblemáticos...
Hmm... concordo com todos os factores menos o dos portugueses lerem em inglês. Não é o facto de se ter inglês até ao 12º que habilita uma pessoa a ler em inglês (experiência própria) e mesmo que a pessoa saiba muita gente prefere ler em pt (isto de discussões com colegas de curso que sabem inglês razoavelmente bem mesmo assim preferem ler em pt).
ReplyDeleteE também acho que nos últimos anos a qualidade do ensino tem vindo a decrescer e que os alunos saem da escola a saber menos (muito também por culpa dos próprios pais e dos alunos que até se gabam de ter tido negativa - experiência própria também, ouvi eu alunos da preparatória todos afoitos a dizer casualmente que iam ter uma data de negativas e a rirem-se descuidadamente. Eu sei que vou parecer velha mas no meu tempo, eu tinha vergonha de ter negativas. Da única vez que tive uma na preparatória (a matemática) até escondi o teste. :P
Ah e isto é spam-ish, mas tens um 'selinho' no meu blogue. ^_^ http://pinkgum.blogspot.com/2012/02/liebster-blog.html
ReplyDeleteQuando me referia ao inglês, referia-me ao grandes viciados bibliófilos, pois os leitores casuais não se importam de pagar mais uns euritos, de facto nem devem saber que comprando pelas lojas virtuais das editoras conseguem melhores preços que nas livrarias "clássicas".
ReplyDeleteNós, leitores da faixa a partir de 50 livros para cima, por vezes até começam a ler em inglês gradualmente para se habituarem (pois sabem a poupança que é ler noutra língua).
E tens razão quanto à gradual baixa de qualidade no ensino, mas acho que isso é uma coisa global mesmo, resultado de anos a incutir aos alunos que aprender é algo semelhante à osmose e que não deve implicar sacrifícios nem trabalho em demasia. E no meu tempo, quando tirava uma negativa era castigada, agora os pais dão uma nova consola pois o menino deve estar deprimido...
A questão do inglês levanta o problema do abandono da literatura de Língua Portuguesa, que, confesso, é uma grande perda para estes leitores.
ReplyDeleteRecorro muitas vezes à troca entre familiares e a ida à biblioteca municipal. Compro cada vez menos livros, por falta de espaço onde os guardar e como forma de poupança.